A polícia procura dois homens depois que pelo menos dez pessoas foram mortas em uma onda de ataques que chocou o Canadá.
Matt Murphy e Yaroslav Lukov
A polícia canadense lançou uma enorme operação para encontrar os dois homens suspeitos de esfaquear pelo menos dez pessoas até a morte no domingo (4/9), em um ataque que chocou o país.
Os fugitivos Damien Sanderson e Myles Sanderson estão armados e são considerados perigosos.
As vítimas foram encontradas em 13 locais diferentes na remota comunidade indígena James Smith Cree Nation e nas proximidades da vila de Weldon, na província de Saskatchewan.
Este é um dos ataques mais violentos que o Canadá já enfrentou. O primeiro-ministro do país, Justin Trudeau, disse que a situação é "de partir o coração".
Pelo menos outras 15 pessoas ficaram feridas. A polícia orienta que os moradores fiquem extremamente vigilantes enquanto acontece a busca em uma das maiores e mais remotas regiões do país.
"Estou chocado e devastado pelos horríveis ataques", declarou Trudeau em comunicado.
"Os responsáveis pelos atos abomináveis devem ser levados à justiça."
Quando as notícias dos esfaqueamentos foram divulgadas, um alerta de pessoa perigosa foi enviado para todos os celulares cadastrados nas províncias de Saskatchewan, Manitoba e Alberta — uma região enorme com quase metade do tamanho da Europa.
Um estado de emergência foi declarado na área da James Smith Cree Nation — uma comunidade de cerca de 2 mil habitantes próxima da vila de Weldon, que abriga apenas 200 pessoas.
"Fique num local seguro. Tenha cuidado ao permitir que outras pessoas entrem em sua residência", alertou a Polícia Montada Real Canadense de Saskatchewan (RCMP) aos moradores da região.
Vários postos de controle foram montados e os motoristas receberam a orientação de não dar carona a estranhos.
Rhonda Blackmore, comandante da RCMP de Saskatchewan, disse que algumas pessoas podem ter sido alvos específicos do ataque, enquanto acredita-se outras que foram "esfaqueadas aleatoriamente".
Os suspeitos foram vistos pela última vez na cidade de Regina por volta da hora do almoço no domingo (4/9) e podem estar viajando em um carro do modelo Nissan Rogue preto, segundo informações da polícia.
O relacionamento entre Damien Sanderson, de 31 anos, e Myles Sanderson, de 30, não é conhecido. As autoridades até agora não forneceram mais detalhes sobre os suspeitos.
Em uma coletiva de imprensa na noite do domingo, a polícia disse que pode haver mais feridos além dos 15 que já foram encaminhados para os hospitais da região.
Os investigadores se recusaram a especular sobre os motivos por trás do ataque, mas o chefe Bobby Cameron, da Federação das Nações Soberanas Indígenas, sugeriu que o caso pode estar relacionado a drogas.
"Esta é a destruição que enfrentamos quando drogas ilegais nocivas invadem nossas comunidades, e exigimos que todas as autoridades sigam a direção dos chefes e dos conselhos para criar comunidades mais seguras e saudáveis para o nosso povo", disse Cameron.
A primeira chamada de emergência foi feita para a polícia às 5h40 da manhã no horário local (8h40 de Brasília), para a capital da província, Regina, a cerca de 280 km ao sul de Weldon.
Esse alerta inicial foi rapidamente seguido por muitos outros pedidos de ajuda, que gerou, nas palavras da polícia, um "evento de rápida evolução".
Anne Lindemann, porta-voz da Autoridade de Saúde de Saskatchewan, disse à mídia local que foi necessário recrutar mais funcionários para lidar com um "fluxo de vítimas".
"Eles são considerados armados e perigosos. Se você vir os suspeitos ou o veículo deles, não se aproxime. Saia imediatamente da área e ligue para o 911", orientam as autoridades.
Logan Stein, um jornalista local, disse à BBC que a região onde o ataque aconteceu é remota. Ele relatou que os suspeitos parecem ter ido de porta em porta esfaqueando os moradores.
O chefe dos Chakastaypasin, Calvin Sanderson — um dos líderes eleitos da região — disse ao jornal Regina Leader Post que todos na comunidade foram afetados.
"Eles eram nossos familiares e amigos. Na maioria, somos todos parentes aqui, então é muito difícil", afirmou Sanderson. "É muito horrível."
A moradora de Weldon, Diane Shier, contou que seu vizinho, um homem que morava com o neto, foi morto, de acordo com o jornal Globe and Mail.
Outro residente, Robert Rush, declarou que a vítima era "um homem gentil e viúvo na casa dos 70 anos".
"Ele não machucaria uma mosca", complementou.
Outra vítima foi Lana Head, mãe de duas crianças. Seu ex-parceiro Michael Brett Burns disse à mídia local que estava "magoado por toda essa perda".
O ministro das Relações Indígenas do Canadá, Marc Miller, declarou que procurou os líderes comunitários para "oferecer o apoio total do Canadá e qualquer assistência que seja necessária nos próximos dias".
Linha do tempo dos eventos
• 05h40, na hora local - a polícia recebeu a primeira chamada sobre um esfaqueamento em James Smith Cree Nation. Mais alertas começaram a chegar em poucos minutos.
• 07h12 - a polícia emitiu um alerta sobre pessoas perigosas e orientou que todos busquem abrigo imediatamente.
• 07h57 - a polícia revelou os nomes, as descrições e as fotos dos dois suspeitos.
• 08h20 - o alerta sobre pessoas perigosas foi estendido a toda a província de Saskatchewan.
• 11h25 - a busca pelos suspeitos foi ampliada para as províncias vizinhas de Manitoba e Alberta.
• 12h07 - a polícia alertou a população sobre o veículo suspeito. Surgiram informações de que o carro havia sido avistado em Regina, a capital da província.