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Como africana fugiu da prostituição forçada na Dinamarca

Publicada em 27/10/21 às 07:25h - 171 visualizações

por TV Jundiai Hoje


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A rua principal do bairro de Vesterbro é a Istedgade Foto: Getty Images / BBC News Brasil  (Foto: TV Jundiai Hoje)
Na esperança de se tornar cuidadora de idosos, Jewel viajou para Copenhague, onde foi forçada a se prostituir. Mas dois encontros casuais permitiram que ela conseguisse escapar.
Linda Pressly 

Todos os anos, milhares de mulheres são traficadas para cidades europeias e exploradas sexualmente.

Jewel, uma jovem nigeriana que esperava se tornar uma cuidadora de idosos, finalmente conseguiu escapar da exploração graças a dois encontros casuais.

A sua chegada à Dinamarca é descrita por Jewel (que não é seu nome verdadeiro) assim:

"Simplesmente vi a luz. Quase sempre estava escuro de onde vinha porque não há eletricidade... Mas tudo aqui brilhava. Era muito lindo", diz. "Agradeci a Deus pela oportunidade de vir a este país. Queria muito começar a trabalhar".

Jewel pegou um voo da Nigéria pensando que iria trabalhar com pessoas mais velhas.

"As pessoas que são vítimas de tráfico passam pela Líbia e costumam pegar ônibus e barcos. Mas isso (o caso dela) foi tão bem organizado que não deu para suspeitar", afirma.

A Organização Internacional para as Migrações estima que 80% das mulheres nigerianas que viajam por terra e depois tentam cruzar o Mediterrâneo são traficadas para o comércio sexual europeu.

Jewel sabia de mulheres que passaram por isso depois de fazer a viagem perigosa, então, quando ela começou sua jornada no aeroporto de Lagos, ela se sentiu tranquila.

Em Copenhague, ela foi recebida por uma mulher nigeriana, que a levou no dia seguinte a Vesterbro, o distrito da luz vermelha da cidade.

"Eu esperava ver algum tipo de hospital", lembra Jewel.

Elas caminharam pelas ruas por um tempo, e Jewel observou os arredores, como lhe disseram para fazer.

Então a mulher jogou uma bomba:

"Ela disse: 'É aqui que você vai trabalhar'. Olhei em volta para ver se ela estava apontando para um prédio que eu não tinha notado. Mas não, ela estava se referindo ao local por onde estávamos andando. Foi quando ela disse que eu seria ser uma prostituta, e era aqui que eu procuraria clientes. Então, toda a Dinamarca caiu em cima de mim."

Jewel teve uma reunião fortuita naquela noite que mais tarde se tornaria importante: Michelle Mildwater, da HopeNow, uma ONG que apoia vítimas do tráfico de pessoas na Dinamarca, viu a tímida mulher de 20 e poucos anos e deu a ela um cartão com um número de contato.

A chefe nigeriana de Jewel, sua "senhora", disse a ela para não confiar na mulher inglesa em uma bicicleta.

Então, seu primeiro cliente a encontrou rapidamente.

"O homem deu a ela o equivalente a 4 mil coroas dinamarquesas (US$ 620 ou R$ 3,4 mil) para ir à casa dele e então a senhora foi embora", diz Jewel.

"Ficamos no carro pelo que pareceu uma eternidade. Eu não falava o idioma na época e eu não tinha ideia do que ele estava dizendo; tivemos que usar o Google Translate para nos comunicar. Foi assustador."

Nos meses que se seguiram, a atividade não ficou mais fácil para Jewel.

"Eu não era boa nisso. Era muito tímida. Mas sempre tive trabalho porque os clientes regulares sabem quando uma nova pessoa está chegando e querem experimentá-la."

Os números mais recentes divulgados pela União Europeia sobre o tráfico de pessoas revelam que entre 2017 e 2018 houve mais de 14 mil vítimas.

No entanto, esse número é apenas a ponta do iceberg, pois só os casos identificados são registrados. Metade das vítimas era de fora da União Europeia - sendo a Nigéria uma das cinco principais nacionalidades.

A exploração sexual continua a ser o principal alvo do tráfico, de acordo com a Comissão Europeia, e estima-se que, em um único ano, os rendimentos do crime dela derivados alcancem a assombrosa cifra de US$ 16 bilhões (R$ 88,9 bilhões).

As mulheres são informadas de que devem grandes somas aos traficantes para despesas de viagem e acomodação.

"Elas estão vinculados por dívidas", explica Sine Plambech, pesquisador sênior do Departamento de Migração do Instituto Dinamarquês de Estudos Internacionais.

"As mulheres nigerianas são um dos grupos de trabalhadoras sexuais migrantes com maior dívida, que pode variar entre 10 mil e 60 mil euros (aproximadamente R$ 65 mil a R$ 390 mil). E quando você tem esse tipo de dívida, precisa ganhar muito dinheiro rápido. E se você não tem documentos que permitem que você trabalhe, a maneira mais rápida de ganhar dinheiro é na indústria do sexo."

Os traficantes de Jewel informaram que ela teria que pagar 42 mil euros (R$ 270 mil) em prestações regulares. Para deixar isso claro, ela foi convocada para uma reunião terrível em um cemitério, um dia antes de ela sair da Nigéria.

"Fui forçada a jurar que pagaria o dinheiro de qualquer maneira e que não revelaria quem estava me traficando. Se o fizesse, muitas coisas ruins aconteceriam a mim e à minha família."

Assim que Jewel chegou à Dinamarca, os traficantes ameaçaram sua família na Nigéria.

"Eles entraram em minha casa e queriam que minha avó se livrasse de qualquer ideia de denunciá-los à polícia ou não pagar o dinheiro. Então, toda vez que eu ligava para ela, ela sempre chorava no telefone e me lembrava que eu tinha feito este acordo com essas pessoas. Eu tinha que pagar ou algo iria acontecer com eles."

Jewel estava sob imensa pressão, por isso não sentia que poderia discriminar os clientes que atendia dentro dos carros e entre os carros estacionados nas ruas de Vesterbro ou em suas casas.

"Você não pode dizer não. Você tem que dizer sim, porque há 10 ou 15 outras mulheres olhando para o mesmo cara querendo ganhar algum dinheiro naquela noite", diz ela.

Mas ir com um cliente à sua casa pode ser extremamente arriscado.

"Eu poderia ter morrido naquela noite em que fui forçada a permanecer na banheira", lembra ela, ainda traumatizada.

"O homem com quem eu tinha que ir para casa me pediu para entrar na banheira. E eu pensei, 'OK - ele quer que eu me limpe ou algo assim.' Então ele saiu e voltou com dois baldes de gelo. E ele começou a derramar esse gelo em mim na banheira. E eu estava lá nua e era no meio do inverno..."
 
'Impunidade dos infratores'
Em abril deste ano, ao anunciar uma nova estratégia de combate ao tráfico de pessoas, a Comissão Europeia admitiu que 10 anos de esforços para resolver o problema haviam fracassado em grande parte.

"A impunidade dos infratores na UE persiste e o número de processos e condenações de traficantes continua baixo", afirmou a comissão, tornando o tráfico "um crime de baixo risco e alto lucro".

As tentativas de reduzir a demanda pelos serviços das vítimas exploradas também fracassaram, acrescentou a Comissão.

No Brasil, denúncias relacionadas ao tráfico de pessoas podem ser feitas por meio do Disque 100 ou do Ligue 180, no caso de mulheres. De acordo com o governo federal, os serviços funcionam 24 horas por dia, todos os dias, e possuem atendimento em português, inglês e espanhol. As denúncias podem ser anônimas.

A rua principal de Vesterbro, Istedgade, com seus bares, clubes e sex shops, é barulhenta e bem iluminada em uma noite de sábado. Grupos de homens, muitas vezes instáveis por causa dos efeitos do álcool, rondam para cima e para baixo.

As mulheres que vendem sexo - a maioria delas da Nigéria e do Leste Europeu, com cabelo e maquiagem imaculados - estão vestidas com roupas de ginástica. Usam tênis com os quais você pode correr - há poucos pares de sapatos de salto alto e nenhum traje "sexy" estereotipado.

Michelle Mildwater, que apoiou prostitutas estrangeiras na Dinamarca por mais de uma década, ainda circula por aqui - distribuindo seu cartão para mulheres como Jewel, oferecendo ajuda e aconselhamento. Ela está muito ciente de como a vida nas ruas é perigosa e se lembra de vários incidentes violentos em um dos hotéis do bairro.

"Tivemos vários estupros lá", diz ela. "Houve momentos em que uma mulher fugiu com sangue correndo em cima dela."

Nos fins de semana, as ONGs dinamarquesas oferecem serviços para as mulheres que vendem sexo. Uma delas, a Reden International, tem um café onde elas podem descansar, se recuperar e fazer um lanche nos intervalores entre clientes. E em uma das ruas laterais, um grupo de voluntários promove uma iniciativa de redução de danos como nenhuma outra.

É chamada de Van Vermelha, porque é isso que é - um veículo com uma cama na parte de trás iluminada por luzes de fada e um estoque pronto de preservativos e lenços umedecidos. É um espaço privado onde as trabalhadoras do sexo podem trazer um cliente em vez de ir a algum lugar potencialmente inseguro. Durante a noite, um fluxo constante de mulheres chega - homens a reboque - para usar as instalações da van, enquanto os voluntários ficam a uma distância respeitosa, mas perto o suficiente para ouvir se uma mulher está em apuros. Pode ser usado até 28 vezes em um turno de quatro horas.
 
Uma das voluntárias da Red Van é Sine Plambech, pesquisadora acadêmica.

"Essas mulheres têm um problema que estão tentando resolver - dívidas, pobreza, família, filhos. Elas precisam trabalhar. Vão vender sexo, queiramos ou não, por isso oferecemos um espaço seguro para elas enquanto estão fazendo o que fariam de qualquer maneira", diz ela.

"A maioria das mulheres não venderia sexo se não precisasse. Você pode ter todas essas ideias morais sobre o que é bom para elas, mas elas precisam ganhar dinheiro."

Comprar e vender sexo na Dinamarca não é ilegal, mas você precisa de uma autorização de trabalho. O precário status de migração de muitas das mulheres que vendem sexo em Copenhague as torna mais vulneráveis - e muito menos propensas a denunciar qualquer abuso ou violência contra elas à polícia.

A política da Dinamarca é deportar imigrantes sem documentação. Mesmo que as mulheres sejam identificadas como vítimas de tráfico de pessoas, espera-se que elas retornem aos seus países de origem após um curto período em uma casa segura patrocinada pelo governo.

Depois de quatro meses nas ruas, desesperada, deprimida e tentada a tirar a própria vida, Jewel também relutou em denunciar às autoridades. Ela ainda tinha uma dívida enorme e temia por sua segurança e a de sua família na Nigéria.

Então sua vida mudou. Parece cafona - até como um conto de fadas -, mas Jewel conheceu um dinamarquês e se apaixonou. No primeiro encontro, depois de uma refeição romântica, ela contou tudo a ele.

"É um fardo que ele teve de carregar", diz ela agora sobre o homem que se tornou seu marido.

Jewel parou de trabalhar nas ruas e ele a ajudou a fazer pagamentos semanais à sua senhora. Mas o casal precisava de aconselhamento. Jewel conhecia alguém que pudesse ajudá-los?, perguntou seu namorado.

Ela guardou o cartão que Michelle Mildwater lhe dera na primeira noite em que vendeu sexo em Vesterbro.

Michelle aconselhou Jewel, ajudou-a a enfrentar seus traumas e deu-lhe confiança para parar de pagar sua madame. E, felizmente, não houve repercussões violentas para ela ou sua família - talvez porque seu traficante não pertencesse a nenhuma das grandes redes criminosas transnacionais.

Agora, Jewel aguarda o resultado de seu pedido de permanência na Dinamarca. Enquanto isso, seu dinamarquês tornou-se fluente e ela teve um bebê. Jewel e Michelle se tornaram grandes amigas. E quando Jewel se casou, a funcionária da ONG de HopeNow foi sua madrinha.

"Esse é um dos momentos de maior orgulho da minha vida - o fato de que alguém me acompanhou até o altar e que foi Michelle quem fez isso", diz Jewel.

Jewel espera que um dia ir para a escola de negócios. Ela também quer fazer trabalho voluntário para ajudar mulheres nas ruas.

Pouco antes do lockdown, Michelle Mildwater, que é uma ex-atriz, encorajou Jewel a desenvolver uma peça - a história de uma mulher traficada - e apresentá-la para um público em Copenhagen. Jewel a chamou de The Only Way Out Is Through (em tradução livre, A única saída é através).

"Isso foi uma terapia. Quando eu estava fazendo a apresentação, eu estava meio... fora do meu corpo. Era como se eu fosse parte do público, e fiquei muito tocada com o que vi", disse Jewel.

"Porque isso não é apenas uma história - essa é a realidade das pessoas."



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