A BBC analisou alguns equívocos comuns em torno das mudanças climáticas.
Marco Silva - Especialista em Clima da BBC News
A urgência de combater as mudanças climáticas é grande — e, no entanto, nas mídias sociais, falsas alegações continuam a atrapalhar a compreensão de algumas pessoas sobre o aquecimento global.
Com a cúpula climática da COP 27 em andamento no Egito, as buscas na internet sobre mudanças climáticas aumentaram, assim como a desinformação.
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Abaixo, veja alguns dos mitos mais comuns.
1) Mito: 'A mudança climática não é real'
Algumas pessoas que acreditam que a mudança climática não está realmente acontecendo podem endossar teorias da conspiração como uma forma de entender a questão em si.
Eles podem acreditar que o aquecimento global é uma farsa sofisticada organizada por uma cabala secreta e globalista. Outros podem acreditar que é um esquema para ganhar dinheiro — ou mesmo uma manobra sinistra para restringir nossos direitos e liberdades.
Não há evidências para apoiar tais alegações.
A esmagadora maioria dos cientistas — 99% deles, segundo algumas estimativas — concorda que a mudança climática é real e provocada pelo homem.
Desde 1850, a temperatura média global aumentou 1,1°C, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), grupo de cientistas climáticos da ONU.
Como resultado, os eventos climáticos extremos tornaram-se mais intensos, ameaçando vidas e meios de subsistência em todos os lugares.
"É inequívoco que a influência humana aqueceu a atmosfera, o oceano e a terra", disse um relatório do IPCC de 2021.
"As mudanças climáticas estão acontecendo aqui e agora: basta olhar para os extremos deste ano para acreditar nisso", diz Ella Gilbert, cientista do British Antarctic Survey.
2) Mito: 'A mudança climática é um problema do Ocidente'
O aquecimento global está sendo impulsionado pelas emissões de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono, que retêm o calor do sol e tornam o planeta mais quente.
As nações mais ricas foram responsáveis pela maioria das emissões históricas — países como Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha.
Para muitas pessoas em países mais pobres, isso faz com que a solução das mudanças climáticas seja um "problema ocidental": um problema que não cabe aos países mais pobres lidar e que tem pouco a ver com seu dia-a-dia.
Mas a mudança climática não conhece fronteiras e já está se manifestando, por exemplo, no Paquistão, onde acredita-se que o aquecimento global tenha desempenhado um papel nas recentes inundações.
A pesquisa também mostra que os países mais pobres serão os mais afetados pelas mudanças climáticas — entre outras razões, pela falta de recursos para se preparar contra ela.
"A mudança climática é uma questão global", diz Lisa Schipper, pesquisadora da Universidade de Bonn, na Alemanha. As nações mais pobres e menos industrializadas "não são vítimas passivas, são agentes ativos de mudança".
Isso é parte do motivo pelo qual seus governos querem ser ouvidos nas negociações climáticas — inclusive na COP27, onde o tema da justiça climática estará no topo da agenda.
3) Mito: 'A mudança climática pode ser boa para nós'
Em países expostos ao frio implacável, a ideia de um planeta mais quente pode parecer atraente à primeira vista.
Veja o que disse o presidente russo, Vladimir Putin: em 2003, ele sugeriu que, em uma Rússia mais quente, as pessoas "gastariam menos em casacos de pele e a colheita de grãos aumentaria" — uma visão ainda compartilhada hoje nas mídias sociais russas.
O problema é que quaisquer ganhos marginais que possam resultar das mudanças climáticas são ofuscados por seu impacto mais amplo em todo o planeta.
O IPCC estima que, se a temperatura média global subir 1,5°C até o final do século, as mudanças climáticas podem custar ao mundo US$ 54 trilhões (US$ 69 trilhões, se as temperaturas subirem 2°C).
O futuro pode parecer sombrio: países do Oriente Médio podem ver terras agrícolas transformadas em deserto; as nações insulares do Pacífico podem desaparecer sob o aumento do mar; e várias nações africanas podem ser atingidas pela escassez de alimentos.
Mesmo em países frios como a Rússia, os incêndios florestais — como os que assolaram a Sibéria em 2021 — já estão se tornando mais frequentes, à medida que o clima fica mais quente e seco.
4) Mito: 'O nível do mar não está subindo. São apenas as marés'
Segundo a agência espacial dos EUA, a Nasa, os oceanos já absorveram 90% do aquecimento que ocorreu nas últimas décadas devido ao aumento dos gases de efeito estufa.
Como resultado, o gelo preso em terra em lugares como geleiras começou a derreter. E como a água se expande à medida que fica mais quente, os oceanos também se expandiram à medida que as temperaturas aumentaram.
Nas mídias sociais, muitas vezes vi céticos das mudanças climáticas ridicularizarem os outros por supostamente não apreciarem "o trabalho das marés" — mas a realidade é mais complexa do que isso.
As marés sobem e descem: representam pequenas mudanças diárias que se equilibram ao longo do tempo. Mas estima-se que, em apenas cerca de 100 anos, o nível global do mar já tenha subido de 160 a 210 mm.
"Isso é um pouco maior do que no início do século 20", diz Ken Rice, professor de Física da Universidade de Edimburgo. E esse processo está ficando cada vez mais rápido.
Embora essa mudança possa ser pouco visível a olho nu, ela já está tendo um impacto claro. Mares mais altos significam que a erosão costeira é acelerada e as inundações se tornam cada vez mais prováveis.
E os cientistas dizem que, a menos que uma ação rápida seja tomada, o nível do mar pode subir até 2 metros até o final de 2100.
Isso significa que milhões de pessoas que atualmente vivem em áreas costeiras — especialmente na Ásia — poderão em breve ver suas áreas inundadas ou até submersas.
5) Mito: 'É tarde demais para corrigir as mudanças climáticas'
É difícil não ficar ansioso com as manchetes sobre as mudanças climáticas. Toda a conversa de "última chance" e "alertas vermelhos" pode nos afetar muito.
Isso pode levar alguns a sentir que nada pode ser feito sobre isso — e que a extinção parece cada vez mais provável, quanto mais tempo leva para o mundo agir.
O ponto é: o clima já está mudando e o impacto dessas mudanças será sentido por centenas de anos.
Mas há algumas boas notícias também. Graças aos cientistas especializados em clima, sabemos exatamente o que precisa ser feito diante dessa crise sem precedentes.
Os países terão que reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, encontrar maneiras de capturar os gases que já estão na atmosfera.
Essa é parte da razão pela qual cúpulas como a COP27 são importantes — é uma chance para os políticos se reunirem e discutirem seus planos de ação contra as mudanças climáticas.
"Cada ação que podemos tomar para reduzir nosso impacto faz a diferença", diz o Dr. Gilbert do British Antarctic Survey.
"A janela de oportunidade para agir está se estreitando, mas ainda existe, e devemos aproveitar essa oportunidade."