Bloqueios de estradas por caminhoneiros bolsonaristas deixaram os terminais de ônibus vazios
Gonçalo Junior
Os bloqueios de estradas e rodovias por caminhoneiros bolsonaristas provocaram o cancelamento de chegadas e partidas de 880 ônibus nos terminais rodoviários Tietê e Barra Funda, em São Paulo, desde segunda-feira, 31. O balanço foi divulgado pela Socicam, responsável pela administração dos terminais. Passageiros que usam diariamente o sistema rodoviário tiveram de dormir nas cadeiras, nos bancos e até no chão das salas de embarque por causa dos atrasos e cancelamentos.
Destinos importantes, inclusive capitais, ainda não veem ônibus chegando nas plataformas. "Está suspensa a venda das passagens rodoviárias e partidas para as capitais Rio de Janeiro (RJ), Florianópolis (SC) e Curitiba (PR) e outras cidades menores até que a situação se normalize", informou a Socicam.
Alguns ônibus que partiram do Terminal Tietê, 31, com destino ao Rio de Janeiro, retornaram ao terminal depois de ficarem parados nas estradas. Isso com o consenso da maioria dos passageiros.
Muitos passageiros tiveram que dormir no chão das rodoviárias por não conseguir embarcar desde a noite de segunda, 31, como o conferente Marcos Rodrigues, de 39 anos. Foi possível ouvi-lo na pausa no cochilo que ele tirava, deitado em um dos parapeitos do terminal da Barra Funda. Algumas garrafas pet substituem o travesseiro. Ele chegou ao local às 19h40 da noite de segunda-feira e não conseguiu embarcar. Dormiu sentado. Seu ônibus sairia para Bauru às 15h. "Nem avisei a família para que eles não ficassem preocupados. Quando chegar lá, eu conto" disse.
Alguns cartazes colocados na frente dos guichês das rodoviárias informam que os bloqueios prejudicaram a venda de passagens, que estavam sendo vendidas apenas para a quarta-feira, 2. No Terminal Rodoviário Jabaquara, que atende linhas para o litoral sul de São Paulo, as partidas e vendas de passagens estão normalizadas.
Os atrasos e cancelamentos acabaram adiando encontros que não deveriam mais ser adiados. Quatro dias depois de se casar, Dione Rodrigues Silva viu o marido ser internado depois de um surto psicótico. Não houve lua-de-mel. Por causa da escala de trabalho apertada como subgerente de um restaurante no Shopping Aricanduva, zona leste, ela só conseguiu visitá-lo uma vez em dois meses. Agora, ele teve alta médica, mas ela não conseguiu ônibus para viajar para Itapira (SP). "A única coisa que me conforta é que ele vai sair do hospital e vamos poder começar o casamento de fato." Na ânsia de chegar em casa ou no trabalho, passageiros encararam rotas mais demoradas. O empresário Marlon Stifter, de 41 anos, resolveu enfrentar uma alternativa da empresa Águia Branca pela rodovia Rio-Santos até a capital fluminense. Isso significa quase quatro horas a mais na estrada. "Chegando, está ótimo", conforma-se.