País vê incrédulo paralisações promovidas por caminhoneiros bolsonaristas que não aceitam o resultado das eleições
Daniel Fernandes
Um Brasil é o de Luiz Inácio Lula da Silva, eleito presidente com 60,3 milhões de votos válidos (50,9%). O outro Brasil é o ainda governado por Jair Bolsonaro, que recebeu 49,1% dos votos válidos (58,2 milhões ao todo).
No primeiro Brasil, Lula já se reuniu com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, definiu Geraldo Alckmin como responsável pela transição e já estuda o orçamento. O segundo Brasil vê incrédulo paralisações promovidas por caminhoneiros bolsonaristas e de apoiadores do atual presidente que não aceitam o resultado das eleições, embora não exista sequer um indício de fraude nas urnas eletrônicas.
Um Brasil olha para o próximo ano, com seus desafios econômicos, sociais e ambientais, entre outros. O outro País olha aflito para o passado, onde o caos (ainda) tenta corroer um pouco mais as instituições democráticas que - aos solavancos - garantiram a realização de eleições gerais em dois turnos.
Após uma segunda-feira de crescentes paralisações em vias expressas, inclusive a que impediu cidadãos que votaram ou não em Bolsonaro de chegarem ao aeroporto de Cumbica, os bloqueios começaram a se reduzir por força da Justiça e ação de governadores na terça-feira. Eleitores que votaram ou não em Bolsonaro, neste Brasil, passaram a ter dificuldade de comprar alimentos em supermercados. E insumos faltaram para a produção de vacinas.
Enquanto em um País a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), aliada de Bolsonaro, reconhecia a vitória de Lula, o outro Brasil usava o aparente anonimato das redes sociais para apelar a bloqueios e à xenofobia. O clima, era de violência.
A esperança de Lula - uma ambição e tanto dada a diferença pequena mostrada pelas urnas - disse que não existem dois Brasis. A fala foi logo depois de ser eleito presidente. No outro Brasil, mais de 40 horas depois das eleições, Bolsonaro falou exatos dois minutos e três segundos. Mas reconheceu o processo eleitoral e, principalmente, disse o que lhe era esperado: vai cumprir a Constituição.
Será que vamos mesmo ter apenas um Brasil em breve?