No domingo, 13, o CEO da Pfizer defendeu mais uma reforço do imunizante contra a Covid-19, alegando baixa eficácia da 3ª dose da vacina
Juliana Steil
O Brasil ainda não está pronto para falar em 4ª dose da vacina contra a Covid-19. A avaliação é de especialistas ouvidos pelo Terra, após o CEO da farmacêutica Pfizer, Albert Bourla, afirmar que será necessária mais uma dose de reforço do imunizante.
Em entrevista ao programa 'Face the Nation', da CBS, no último domingo, 13, o empresário afirmou que a 3ª dose da vacina perde a eficácia após alguns meses da aplicação, apesar de ser "muito boa" para evitar hospitalizações e mortes.
Atualmente, o Brasil oferta a 4ª dose da vacina contra a Covid-19 para imunossuprimidos, bem como em Botucatu (SP) e e nos idosos de todo o estado do Espírito Santo por causa de estudos científicos.
De acordo com o infectologista Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologistas e membro dos projetos inéditos de aplicação da 4ª dose no país, o estudo conduzido em Botucatu e no Espírito Santo é possível porque em ambos os locais a vacinação está avançada.
"Isso não vale pro Brasil como um todo. O país é muito heterogênio em termo de cobertura vacinal. Por exemplo, Palmas (TO) não tem 20% de 3ª dose no público elegível. Como vou falar de 4ªdose?", questiona Naime.
Segundo o infectologista, a expansão para todo o país é assunto que já é discutido há cerca de dois meses pela Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI), do Ministério da Saúde. No entanto, as discussões sempre caem no mesmo ponto.
"Não dá pra pensar em implementar a 4ª dose, enquanto não se tem a D3 (3ª dose) de forma global no Brasil. Aliás, tem muito lugar que a D2 (2ª dose) ainda é problema", acrescenta.
Foco deve ser 3ª dose
Na avaliação da médica Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e defensora da distribuição das vacinas contra a Covid-19 em escala global para suprir a defasagem de aplicação em países mais pobres, os governo deveria focar na aplicação da 3ª dose em adultos e da 2ª dose em crianças.
"Enquanto tivermos países em que 10% da população recebeu uma única dose, nós estaremos muito mais suscetíveis ao surgimento de uma nova variante", argumenta.
Por outro lado, o infectologista Evaldo Stanislau, que atua no Hospital das Clínicas de São Paulo, considera outra prioridade: desenvolver novas vacinas antes da ideia de segunda dose de reforço. O médico lembra que os imunizantes já aplicados atualmente precisam passar por ajustes para contemplar as variantes que venham a surgir.
"Se for para evitar infecção, faz mais sentido a gente usar vacinas que ainda não existem e ainda estão em desenvolvimento", defende.
Avaliação de outras farmacêuticas
Procurada, a Pfizer não retornou o contato até a publicação desta matéria. Já a AstraZeneca, que também aplica doses no país, disse que, por ora, não tem nenhuma informação ou orientação sobre a aplicação de quarta dose.
Enquanto isso, o Instituto Butantan, que produz a CoronaVac, afirmou que a primeira dose de reforço do imunizante se mostrou eficaz contra a variante Ômicron em estudos chilenos, mas que uma nova vacina, a ButanVac, está sendo desenvolvida para dar início a uma segunda geração de imunizantes, com fácil adaptação para novas variantes. O Instituto não se manifestou sobre uma quarta dose da CoronaVac neste momento.