Cidade registrou 259,8 milímetros de chuva nas últimas 24 horas, o maior volume de chuvas em 90 anos. Tragédia desta terça-feira causou 71 mortes
Priscila Mengue e Luiz Henrique Gomes
O volume de chuvas que caiu em Petrópolis nesta terça-feira, 15, é o maior registrado na cidade nos últimos 90 anos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Segundo o Cemaden, choveu na cidade 259,8 milímetros em 24 horas. Desde que o Inmet passou a medir as chuvas no local, em 1932, não houve um volume de chuvas tão alto.
De acordo com o Inmet, as chuvas desta terça-feira superaram o recorde anterior de 168,2 milímetros registrados em 20 de agosto de 1952. A chuva recente, concentrada em quatro horas e acima do esperado para todo o mês de fevereiro, causou dezenas de deslizamentos e ao menos 71 mortes até o meio da tarde desta quarta-feira, 16.
Segundo o Inmet, a região serrana permanece na área de atenção em função do grande volume de chuvas. A região está sob alerta laranja de chuvas até às 11h desta quinta-feira, 17 - o que significa chuvas intensas e perigosas para a área, podendo chegar a 100 mm em 24 horas.
Meteorologistas explicam que a chuva recente foi motivada pela formação de áreas de instabilidade a partir da passagem de uma massa de ar fria pelo Rio de Janeiro. As características do relevo da região serrana contribuíram para a precipitação.
Ao chegar na região de Petrópolis, a massa de ar frio resultou na chamada "chuva orográfica" ou "chuva de relevo", na qual as características de serra forçam uma elevação dos ventos úmidos, o que gera um encontro com temperaturas mais baixas e a consequente precipitação. "O relevo obriga a umidade a subir na atmosfera e formar nuvens que devolvem a umidade na forma de chuva", explica Estael Sias, meteorologista da MetSul.
"Primeiro, a passagem da frente fria e, depois, a chuva orográfica elevaram os acumulados de precipitação", pontua. Petrópolis fica a pouco mais de 800 metros acima do nível do mar. "O relevo teve papel importante tanto na formação da chuva quanto na ampliação do desastre ao acelerar a descida da água."
Antes de se aproximar da serra, a passagem da frente fria já havia entrado em contato com o ar quente e úmido, o que resultou na formação de nuvens carregadas, de acordo com a MetSul. Além disso, o fluxo de ar frio vindo do oceano pela tarde também influenciou na formação de áreas de instabilidade mais localizadas.
Também influenciam na tragédia desta terça-feira de impactos outros fatores, como o histórico recente de chuvas, as mudanças climáticas, a urbanização desordenada e a ocupação do solo, por exemplo.