Situação na Rússia vem sendo monitorada pela equipe de segurança, que já se manifestou contra a viagem
Eduardo Gayer
O presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou neste sábado, 12, que vai viajar para Moscou na próxima segunda-feira, 14, apesar das tensões crescentes entre Rússia e Ucrânia. A manutenção da viagem em meio à iminência de um ataque a Kiev pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, foi antecipada ontem pelo Broadcast Político/Estadão.
"Fui convidado pelo presidente Putin. O Brasil depende de fertilizantes da Rússia e da Bielorrúsia. Levaremos um grupo de ministros também para tratarmos de outros assuntos que interessam ao nosso País, energia, defesa e agricultura", afirmou o presidente em transmissão ao vivo nas redes sociais, após conceder entrevista ao ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PROS), na Rádio Tupi.
Bolsonaro deve embarcar para Moscou às 19 horas da segunda-feira e chegar ao destino apenas na noite de terça-feira. Na quarta-feira, 16, se reúne com Putin e empresários locais em meio à preocupação do agronegócio brasileiro sobre a política protecionista russa em torno de fertilizantes essenciais para as lavouras.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, no entanto, não deverá participar da comitiva. Ela testou positivo para a Covid-19 na última terça-feira e ainda não se recuperou. Cristina, cotada para a vice de Bolsonaro nas eleições de 2022, é quem lidera as discussões com os russos sobre fertilizantes.
"A gente pede a Deus que reine a paz no mundo para o bem de todos nós", limitou-se a dizer sobre o conflito envolvendo seu primeiro destino internacional em 2022 e a Ucrânia, apoiada pelos Estados Unidos e outros países do Ocidente.
Tensão entre Rússia e Ucrânia
A situação na Rússia vem sendo monitorada pelo Gabinete de Segurança Institucional e pelo Ministério da Defesa. O Estadão apurou que a equipe chefiada pelo ministro Augusto Heleno já se manifestou contra a viagem. A coordenação entre eles será crucial para uma decisão final, segundo auxiliares diretos do presidente. Somente o estopim do conflito poderia cancelar a viagem.
Segundo o assessor de segurança nacional do presidente Joe Biden, Jake Sullivan, uma invasão pode ocorrer na semana que vem ou até mesmo no fim de semana. Sullivan disse ainda que não há informações se Putin já tomou a decisão, mas a inteligência americana trabalha com um cenário de uma ocupação rápida da capital, Kiev.
Após o anúncio, diversos países iniciaram uma mobilização para a retirada de funcionários diplomáticos e cidadãos na Ucrânia. A embaixada brasileira em Kiev recomendou que seus cidadãos mantenham-se em alerta, mas reiterou que não há recomendação de que os brasileiros devem deixar a Ucrânia.
"A Embaixada do Brasil em Kiev informa que continua a acompanhar a situação na Ucrânia, em permanente contato com o Itamaraty em Brasília e em próxima coordenação com as autoridades ucranianas e com a comunidade diplomática local, composta de representações de 80 países, além de diversas organizações internacionais", disse em nota.
Alertas e recomendações à comunidade brasileira na Ucrânia serão transmitidos via redes sociais e o site oficial, caso seja necessário, diz a embaixada.
"A Embaixada reitera que os cidadãos brasileiros devem manter-se alertas e sempre atualizados por meio de fontes locais e internacionais confiáveis. Ao mesmo tempo, não há recomendação de segurança contrária à permanência na Ucrânia", completa.
Assessores da Presidência embarcam neste sábado, em voo comercial. Outros já estão em Moscou. Depois da Rússia, Bolsonaro segue para Budapeste, para agenda com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, líder nacionalista de extrema direita.