'Dono' da sigla que deverá abrigar o presidente na busca pela reeleição, Valdemar Costa Neto foi um dos 25 condenados no esquema do Mensalão
Cássia Miranda
Destino "99%" certo do presidente Jair Bolsonaro para a disputa da reeleição, o Partido Liberal já compôs chapa com Lula na eleição de 2002, viu seu presidente ser condenado no escândalo do Mensalão e votou pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016. Trajetória digna do Centrão, grupo de partidos conhecido por ser pragmático e "dançar conforme a música", aliando-se ao governo da ocasião em troca de cargos e recursos públicos.
Como mostrou o Estadão, a filiação de Bolsonaro ao PL deve ocorrer ainda neste mês e representa sua nona mudança de sigla desde que ingressou na política, em 1988. Bolsonaro preferiu o PL ao Progressistas (PP), com quem vinha negociando, por avaliar que terá ali mais autonomia para influenciar nas decisões da Executiva e nos diretórios regionais do que teria em outra legenda.
Fundado em junho de 1985, o PL — que no Tribunal Superior Eleitoral está registrado sob o número 22 — já foi Partido da República (PR), entre 2005 e 2015, resultado da fusão entre o PL e o Partido da Reedificação da Ordem Nacional (Prona). Em 2019, o TSE autorizou a legenda a retornar à sigla original.
Entre os anos de 2001 e 2005, o PL abrigou o então vice-presidente da República, José Alencar, que esteve com Lula na Presidência até 2010. Neste período, o partido fez parte da base do governo do petista. O líder do PL à época, senador Magno Malta (ES), que na última eleição foi cogitado como vice de Bolsonaro, disse que o País seria "bem-sucedido" com Lula no poder.
"Espero e acredito que o presidente Lula e o País serão bem-sucedidos na intenção de mudar e de melhorar o país com uma nova visão social. A sensibilidade e a disposição de cooperar que existe hoje no Brasil e sobre as quais não se ouvia falar há tanto tempo irão impulsionar essas transformações", afirmou em janeiro de 2003.
E foi justamente o apoio do PL e outros partidos, como o PTB, ao governo Lula, que deu origem ao Mensalão. O partido foi diretamente implicado no esquema. Tanto que seu presidente, o então deputado federal Valdemar Costa Neto (SP) foi preso em 2012 após ser condenado no âmbito do esquema por corrupção passiva e lavagem de dinheiro a sete anos e 10 meses. Em novembro de 2014, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, autorizou que Costa cumprisse o restante da pena em prisão domiciliar. Ao todo, 25 pessoas foram condenadas no Mensalão.
E é com Costa Neto, a quem Bolsonaro já fez severas críticas, que o presidente tem conversado para acertar a entrada no partido. O "dono" da sigla confirmou ao Estadão ter conversado na segunda-feira, 8, com Bolsonaro, que avisou já ter comunicado sua decisão ao ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente do Progressistas, que tentava filiar Bolsonaro. "Ele disse para mim que falou com o Ciro hoje. E que o Ciro entendeu. Então, vamos tocar para frente o assunto e ver quando vamos fazer essa filiação", afirmou Costa Neto.
Atualmente, o PL possui a terceira maior bancada da Câmara dos Deputados: tem 43 parlamentares, atrás de PSL e PT, com 54 e 53 assentos, respectivamente. No Senado, dos 81 congressistas, quatro são filiados à sigla. A tendência é de que a ida de Bolsonaro para a legenda seja acompanhada de mais de 30 parlamentares, segundo as contas do presidente.
Fora de Brasília, o PL tem um governador — Cláudio Castro (RJ) —, 345 prefeitos, sendo o sexto partido com mais chefes de Executivo municipal; 46 deputados estaduais e 3.467 vereadores pelo País. Em 2020, a sigla teve acesso a um fundo eleitoral de R$ 117,6 milhões (oitavo mais alto) e R$ 45,7 milhões 2020 de fundo partidário.
Em relação ao impeachment da ex-presidente Dilma, em 2016, apesar de a Executiva Nacional do PL — então PR — dar orientação contrária ao processo de afastamento, a legenda votou em peso a favor do impeachment: com 26 votos favoráveis e 10 contrários.