Vera Rosa e Pedro Venceslau; colaborou Davi Medeiros
O presidente do PSDB, Bruno Araújo, determinou nesta quarta, 27, a retirada dos 92 prefeitos e vices que se filiaram ao PSDB fora do prazo estabelecido para votar nas prévias do partido, marcadas para 21 de novembro, com o objetivo de escolher o candidato tucano ao Palácio do Planalto. A decisão de Araújo, que está em Dubai, foi tomada em caráter liminar, na tentativa de conter a crise interna, e será submetida nesta quinta, 28, à Executiva Nacional do PSDB.
O prazo estabelecido pela comissão de prévias para a filiação de eleitores era 31 de maio. Os diretórios de Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia e Ceará, porém, apresentaram denúncia de que o grupo do governador de São Paulo, João Doria, filiou 92 prefeitos e vices de forma irregular, com data retroativa, para inflar o colégio eleitoral. A acusação, considerada grave, foi feita por apoiadores do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
No parecer ao qual o Estadão teve acesso, Araújo pede que a comissão das prévias proceda a análise de cada caso "mediante as manifestações e esclarecimentos prestados pelos filiados, e delibere sobre qual data de filiação deve ser considerada (...) para efeitos de formação do colégio eleitoral". O presidente do PSDB observou ainda que, no caso de validação da filiação, o tucano exercerá o voto por meio do aplicativo, mecanismo hoje criticado pelo grupo de Doria.
"É por demais óbvio dizer que a referida resolução da Comissão Executiva Nacional-PSDB não impede, nem tampouco impediria, filiações posteriores a 31/5/2021, mas tão somente fixou data que veda a participação desses novos filiados nas prévias na condição de eleitores. Não se trata, enfim, de requisito para filiação, mas uma regra de conformação do colégio eleitoral das prévias, com critérios objetivos de alistamento, consoante as tratativas iniciadas em abril de 2021", destacou Araújo.
O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio também se inscreveu nas prévias, mas corre por fora. A disputa que racha o PSDB e ameaça se tornar um escândalo de compra de votos é entre Doria e Leite. Nos bastidores, aliados do governador gaúcho exigem a saída do presidente do PSDB de São Paulo, Marco Vinholi, secretário de Desenvolvimento Regional.
'NO VOTO'
Doria negou que tenha havido irregularidades e defendeu a manutenção dos correligionários como eleitores. "Eleição não se ganha no grito, mas no voto. Eu aprendi a respeitar a democracia. Por que ter medo do voto? Não há razão para ter medo do voto", afirmou ele, que também está em Dubai, participando da Semana São Paulo na Expo 2020.
O governador disse ainda não ter havido falhas no processo de filiação e registro. "Não se pode culpar aquilo em que não há falha e, principalmente, querer criar uma mancha em um processo democrático tão bem conduzido pelo presidente do PSDB, Bruno Araújo."
Após as declarações de Doria, os diretórios de Minas, Ceará, Rio Grande do Sul e Bahia divulgaram nota rebatendo o governador. "Se há algo antidemocrático e antiético é fabricar eleitores depois de iniciado o certame, prática lamentável e repudiável", diz o texto. Vinholi classificou como "absurda" a acusação de fraude. "Aqueles que fizeram a denúncia não têm conhecimento sobre a vida partidária do nosso Estado."