É fundamental capacitar profissionais, trabalhar com as polícias e garantir a permanência de estudantes na escola
Florence Bauer e Samira Bueno*
Nos últimos 5 anos, 35 mil crianças e adolescentes de até 19 anos foram mortos de forma violenta no Brasil. Além disso, nos últimos 4 anos, mais de 180 mil foram vítimas de violência sexual. É o que revela o Panorama da Violência Letal e Sexual Contra Crianças e Adolescentes, estudo inédito do Unicef e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
A maioria das vítimas de morte violenta é adolescente, morre fora de casa, vítima da violência armada urbana. Das 35 mil vidas perdidas, 31 mil tinham entre 15 e 19 anos. As mortes de adolescentes vêm caindo, mas continuam altas e têm um alvo específico: meninos negros. Mais de 90% das vítimas eram meninos e 80%, negros. A intervenção policial é responsável por 15% das mortes de crianças e adolescentes de 10 a 19 anos, nos Estados com dados disponíveis.
Outro alerta são as mortes violentas de crianças de até 4 anos, que aumentaram 27% de 2016 para 2020, primeiro ano da pandemia - passando de 112 para 142. Crianças são mortas dentro de casa, vítimas da violência doméstica.
O mesmo vale para a violência sexual, que acontece em casa, com autor conhecido. Entre 2017 e 2020, 180 mil crianças e adolescentes de até 19 anos sofreram estupro ou estupro de vulnerável - um terço delas menores de 10 anos. A maioria da vítimas (80%) é de meninas, a maior parte entre 10 a 14 anos. Entre os meninos, o crime acontece na infância, entre 3 a 9 anos.
Para reverter esse cenário, é fundamental capacitar profissionais que trabalham com crianças e adolescentes; enfrentar a violência baseada em gênero; trabalhar com as polícias; garantir a permanência de estudantes na escola; ampliar o conhecimento deles sobre seus direitos e os riscos da violência; responsabilizar os autores das violências; e investir no monitoramento e geração de evidências.
Não se pode naturalizar a violência, é preciso denunciar. Toda pessoa que testemunhar, souber ou suspeitar de violências contra crianças e adolescentes deve denunciar. Proteger é responsabilidade de todos.
*FLORENCE É REPRESENTANTE DO UNICEF NO BRASIL E SAMIRA É DIRETORA EXECUTIVA DO FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA