Tradicional campanha do Guanabara costumava ter cenas de tumulto e disputa por produtos até a última edição, em 2019
Daniela Amorim
A campanha de aniversário dos supermercados Guanabara, considerada a Black Friday do varejo mercadista fluminense, costumava atrair milhares de consumidores, que formavam filas ainda de madrugada à porta das lojas da rede para garantir a compra dos produtos pelo melhor preço. Após o cancelamento da promoção em 2020 por causa da pandemia de covid-19, a rede reabriu nesta quinta-feira, 21, a temporada de liquidações com corredores vazios.
Houve uma mudança na estratégia de divulgação da campanha, justamente para evitar as tradicionais aglomerações nos portões dos supermercados, que costumavam viralizar em vídeos nas redes sociais. No entanto, mesmo os clientes que compareceram ao mercado relataram que estão com menos dinheiro para encher a despensa de casa este ano.
"Não tinha muita gente", relatou Ronaldo da Conceição, de 45 anos, contador e professor de matemática, o primeiro da fila de clientes à espera da abertura da filial do supermercado no centro de Niterói, na região metropolita do Rio.
Os alimentos comprados pelas famílias brasileiras para consumo em casa chegaram a setembro 14,66% mais caros do que no mesmo período do ano anterior, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A alta de preços ocorre num momento em que a taxa de desemprego permanece elevada (13,7% no trimestre encerrado em julho, último dado divulgado pela Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio Contínua, também do IBGE), com 14,1 milhões de pessoas procurando trabalho. E a renda média de quem permanece trabalhando diminuiu 8,8% em um ano.
No supermercado, o professor Ronaldo da Conceição lamenta que as promoções e a renda disponível não sejam mais suficientes para encher três carrinhos de compras, como fazia em anos anteriores. "Os preços não estão tão atraentes como estavam e tem a situação atual do País, né?"
"O desemprego, o estado pandêmico, enfim, todos esses fatores que influenciam a economia, do pouco que a gente para um pouco para ler, a gente sabe que a nossa economia não anda muito bem", apontou.
O aposentado Ailton dos Santos, de 67 anos, manteve a programação de gastos com alimentação graças ao trabalho como vendedor de roupas por conta própria, que ajuda a complementar a renda da família. No entanto, ele conta que também teve que moderar as compras no supermercado.
"Eu já me programei, mas não para a quantidade que eu comprava antigamente, um pouco menos. Devido a essa situação que estamos vivendo, da covid, muitos estão desempregados, aí não têm condição de comprar como antigamente. As coisas aumentaram muito mesmo, está muito difícil", disse.
O primeiro dia de promoções costumava ter aglomeração e disputa entre consumidores por produtos nas gôndolas, mas a primeira manhã de promoções - a mais concorrida da temporada de liquidações, por apresentar os descontos mais agressivos - transcorreu sem que houvesse o esperado pico de demanda.
"Estou surpreso mesmo. Cheguei aqui 6h30, no estacionamento tinha pouca gente. Em outros anos era um alvoroço danado", lembrou Roberto Carlos Gonçalves, de 54 anos, comerciante, que atribui a redução no movimento de clientes às condições financeiras desfavoráveis da população. "Sem dinheiro, está muito difícil para todos nós."
Na última edição, em 2019, cerca 450 mil pessoas passaram pelas 26 lojas da rede apenas no primeiro dia da campanha, que dura mais de um mês. Em função da crise sanitária, a rede de supermercados adiou a divulgação da campanha publicitária sobre o período de liquidações. Em vez de peças publicitárias anunciando a data ao longo de uma semana, os consumidores desta vez só souberam de véspera. O horário de abertura das lojas também foi antecipado em uma hora, passando de 8h para as 7h, para encurtar a espera dos clientes diante dos portões das filiais.