Para cardeal líder da CEI, estatísticas 'são perigosas'
Por Manuela Tulli - A Igreja Católica da Itália fechou as portas para a hipótese de abrir investigações para verificar como e quanto o "fenômeno da pedofilia" atingiu os religiosos do país.
Depois das revelações ocorridas na França, que instituiu investigações semelhantes às realizadas nos Estados Unidos, Austrália, Irlanda, Alemanha, Áustria e Bélgica - apenas para citar alguns dos países que decidiram acertar as contas com essa praga do passado -, muitos começaram a perguntar se também a Igreja na Itália dever esclarecer o que aconteceu contra as crianças.
Nesse momento, inclusive, começou o recolhimento de assinaturas no portal change.org para pedir que a Conferência Episcopal Italiana (CEI) faça o mesmo tipo de investigação feita por ordem das outras instituições católicas nos países europeus.
Porém, o presidente da CEI, cardeal Gualtiero Bassetti, responde que essa não é a estrada a ser seguida no país. "É perigoso enfrentar a praga da pedofilia com base em estatísticas. O conhecimento do fenômeno, em meu ponto de vista, deve ser feito cientificamente, não por investigações", disse nesta quinta-feira (14).
"Nós fizemos a coisa mais importante nesse momento: se há um rio que sai do caminho, se coloca um aterro. E estamos fazendo, em acordo com a Santa Sé, um trabalho importantíssimo de prevenção, de monitoramento nas dioceses, de especialistas que avaliam os casos rapidamente", acrescenta o arcebispo de Perugia.
Uma petição online, endereçada para o presidente cardeal da CEI, foi lançada nesta quarta-feira (13) e já conseguiu 500 assinaturas em menos de 24 horas.
"Queremos uma comissão independente que investigue os abusos na Igreja italiana", é o slogan da campanha lançada pela italiana Paola Lazzarini, doutora em pesquisa em Sociologia e Metodologia da Universidade Católica do Sagrado Coração.
Lazzarini lembra que "há poucos dias, emergiram os resultados do trabalho da Comissão Independente sobre os Abusos Sexuais na Igreja Católica, liderado pela Conferência Episcopal Francesa" e que a "dimensão do horror que apareceu (mais de 200 mil vítimas em 70 anos) mostra, mais uma vez, o quanto é importante que as vítimas sejam ouvidas e que a verdade seja trazida à luz".
Segundo a representante, a Igreja da Itália "mesmo ativando os serviços para as vítimas, não quis ainda uma verdadeira, sistemática e aprofundada investigação sobre os abusos que aconteceram em nosso país". .